Capitulo II
Escrito por Neivania
O plano
6 anos antes...
A noite havia sido difícil.
Novamente sonhei com o lobo gigante com seu pêlo de cor castanho avermelhado e acordei aos gritos. Meu avô veio em meu socorro, estava louco de preocupação. Sua mão pétrea e fria me acalmou, assim como faz com minha avó e fez com mãe. Somos muito ligados, mas consegui convencê-lo a me deixar.
O sonho não me deixou alternativas a não ser ficar pensando sobre isso o resto da noite. Por que venho sonhando isso há tanto tempo? Será que ele existe ou existiu? Sabia que não poderia me estender nos pensamentos – meu avô lê mentes – e isso seria constrangedor. Não que ele já não soubesse de tudo do sonho, mas evitava pensar muito na última parte do sonho.
Acontece quase sempre da mesma maneira no sonho. Ele aparece do nada me surpreendendo. Seu focinho está tão perto de mim que sinto sua respiração em minha pele. De repente ele se transforma em um belo rapaz. Isso muito me lembra um filme, A Bela e a Fera. Só que ele está sempre... completamente nu quando volta a ser humano.
O amanhecer não era muito diferente em Forks do que era em Denali, mas sem a neve, é claro. Não estava tão frio como em Denali também. Nova cidade, nova casa. Não dá tempo para se adaptar.
Era domingo e eles não viriam me incomodar até as nove. Levantei preguiçosa e fui ao banheiro do quarto. Tinha sorte de ser uma Cullen e humana por vários motivos. Vivíamos bem, tinha um quarto com banheiro só para mim em uma casa confortável e uma família unida. Como nenhuma outra.
Tomei um banho relaxante na banheira com sais presenteados pela tia Rose. O resto da família quase não usa água. Então sobra mais para mim. Um privilégio de ser humana, creio eu. Deixei-me de molho um pouco naquela água morna esperando que aquele sonho não me incomodasse mais.
Um cheiro de panquecas que eu simplesmente adoro vinha da cozinha e me convidava a sair do banho mais cedo. Troquei-me rapidamente e saí do quarto em disparada para a cozinha. Tio Emmett chegou cedo e parecia estar de bom humor. Fez minhas panquecas favoritas que aprendeu na tevê.
─ Tio Emmett! – gritei pulando nos braços dele ao entrar pela cozinha.
Ele é forte e, com certeza, seria mais fácil eu me machucar do que a ele. Sua gargalhada inconfundível ressoou pela casa.
─ Minha sobrinha preferida – respondeu satisfeito, beijando-me.
─ Não vale. SOU sua única sobrinha. – vi seu sorriso diminuir, acho que uma lembrança de minha mãe chegou-lhe forte.
─ Desculpe-me tio. – falei rapidamente
─ Panquecas? – falou querendo voltar o clima de antes.
─ Claro, estou faminta! – nem era tanto verdade. Dei-lhe outro beijo.
─ Está faminta? – a minha voz preferida falou atrás de mim. Bem ao meu ouvido. Vovô. O mais lindo, educado, perfeito homem-vampiro que poderia existir na face da terra.
─ Sou o mais lindo? – quis me intimidar e sentou-se na cadeira ao meu lado.
─ Ah, não faz isso. – ruborizei – Amo todos vocês em igual intensidade. – tentei beliscar meu avô por baixo da mesa.
A porta se abre.
─ Você é muito mimada – tia Rose chegara junto com o seu eterno mau-humor. Ainda assim eu sabia derreter aquela mulher linda e fria. Saí da minha cadeira e pulei em cima de suas pernas, dando-lhe um grande beijo e pedi a ela em seu ouvido outra dica de como deixar meus cabelos mais sedosos. Ela abriu um sorriso de orelha a orelha. Fiz uma cara de inocente para o meu avô que desaprovou minha atitude quando voltei para o meu lugar e me servi de uma panqueca enorme. Um copo de leite puro já estava do meu lado.
─ É bom você mastigar mocinha. – minha linda e esplendorosa bisavó Esme entra na cozinha e corro para um abraço forte. Com ela o mais lindo e charmoso médico do mundo e meu bisavô Carlisle que retribuiu o abraço e me deu um beijo de afundar a bochecha.
─ Lindo... – repetiu baixo Edward com sarcasmo.
─ Assim, ela não vai comer nada. – reclamou tio Emmett.
Voltei e quando pensei em por outro pedaço de panquecas na boca meu avô segurou minha mão.
─ Ainda não acabou – falou com a outra mão no queixo e parecia estar entediado com a minha recepção aos convidados.
─ Olá Liz, olá a todos. – tia Alice chegou linda e com o tio Jazz a tiracolo. Corri para abraçá-los e beijá-los. Eles retribuíram me segurando e me apertando. Tão gelados. Amava-os a todos. Mas parei e todos ficaram a me olhar. Edward, meu avô-pai ficou pétreo ao me fitar. Eu havia bloqueado minha mente para ele não lesse meus pensamentos. Aprendi com minha tia Alice. Vi sua expressão se atenuar que ele pode entrar de novo em minha mente.
─ Onde está minha mãe? – como se nada tivesse acontecido. Senti a reprovação me fulminar nos olhos de meu pai.
─ Parabéns, minha gatinha – disse com orgulho minha tia Alice. Tio Jazz também estava contente. – Vou te ensinar outros truques. - disse orgulhosa.
─ Não a incentive Alice. – a voz mais doce e que faz meu coração palpitar e com certeza, a mais linda de todas as mães, Bella, minha mãe e avó ao mesmo tempo.
─ Mamãe! Senti sua falta! – e era mesmo. Queria ela sempre perto de mim. Todos sabiam que eu os amava, mas minha mãe-avó era tudo. Verdadeira fascinação. Até mesmo antes de meu pai Edward. Ela era minha melhor amiga, companheira e porto seguro. Não sei se teria essa mesma ligação com minha verdadeira mãe. Isso eu nunca saberia. Ela se foi.
Meus pais verdadeiros eu não cheguei a conhecê-los. Principalmente meu pai. Parece que ele era uma pessoa boa. Apenas sei que nunca mais o verei. A minha mãe, eles disseram que não a conseguiram salvar. Contudo, às vezes, vejo minha linda mãe em meus sonhos ela está como os outros... Vampira, mas não é uma boa pessoa, ela sempre está querendo me morder. Posso estar errada, é claro, mas prefiro acreditar na versão dos meus pais-avós.
─ Não fui tão longe – mamãe disse com carinho quebrando meus pensamentos – um congresso de três dias e uma formatura – informou com um sorriso. - É melhor voltar a comer ou vai irritar seu avô, sabe como ele fica quando está de mau humor? – disse sem volume as últimas palavras, mesmo sabendo que todos escutavam.
Todos riram menos meu pai. Olhei para ele e fiquei dizendo no pensamento eu te amo várias vezes até ele abrir aquele sorriso torto que eu e minha mãe amamos tanto. Dei um beijo e em seu rosto gelado e voltei a comer minha enorme panqueca, imaginando como iria caber em meu pequeno estômago.
─ Alguém me acompanha? – piadinha de leve que todos riram e responderam como tia Alice gostava de fazer quando era contrariada: mostraram a língua.
Sabia que tinha de sair de fininho, pois eles não estavam ali por causa dos meus lindos olhos verdes – presentes de minha verdadeira bisavó Elizabeth a qual herdei também o nome, segundo meu bisavô Carlisle. Todos estavam lá para uma daquelas reuniões das quais eu nunca poderia participar.
─ Sintam-se beijados. Vejo-os mais tarde.
Então peguei meu prato e meu copo de leite e fui para o jardim. Ralf, meu cachorro pit bull , me acompanhou. Era um covarde eu sei, mas de animais vivos e quentes dentro daquela casa, realmente, éramos somente eu e ele. Forte, robusto parecia o tio Emmett, e por isso tornou meu parceiro de aventuras. Meu pai proibiu de pôr o nome do meu tio nele. Então em homenagem ao seu latido rouco: Ralf era ideal.
Dei meu resto de panquecas, ou seja, quase toda, para o Ralf e deixei ali mesmo o prato e o copo de leite vazio e entrei para buscar meu MP3 player, evitando passar pela cozinha. Busquei a melhor música e a coloquei bem alto. A floresta parecia estar convidativa essa manhã. Queria ir até o rio dessa vez. O céu, nublado como sempre, como aqui ou Denali. A brisa, fria como sempre, enfim não muito diferente. E desde que nasci nos lugares onde morei era uma calma eterna. Só minha mente que não deve estar legal. Aquele lobo me deu medo. Seus olhos... Tão “inteligentes”. Ops... Papai deve estar me monitorando. Devo me lembrar passo-a-passo a lição que tia Alice me ensinou. Respirar. Bloquear. Respirar. Bloquear. Respirar. Bloq... Deu certo. Sei que deu certo, porque não sinto seus “olhos” em mim, como dois olhos dentro da minha cabeça. Não me importo realmente que ele saiba onde estou, mas às vezes, só às vezes, queria ter a privacidade e sorte que minha mãe tem: ninguém pode ler seus pensamentos.
Caminhei com meu fiel escudeiro que andava sempre à frente pela trilha, até beira do rio que passa perto da minha casa. Sentei em uma pedra e encostei as costas em um tronco de árvore caída e fazia desse conjunto um sofá quase perfeito. Ralf ficou ali perto caçando sapinhos. De vez em quando ele se acovardava e vinha para os meus pés. Encostei minha cabeça no tronco. Ainda sentia sono da noite mal dormida e cansaço do pesadelo.
A música do aparelho mudou. Agora era a preferida de minha mãe. A canção que meu pai compôs para ela quando ainda namoravam. Linda melodia. Estava sonolenta demais para andar. Fiquei ali sentada de olhos fechados esperando o tempo e a reunião familiar, sem minha pessoa é claro, passar. Contudo, isso não me irritava. Eu não sou rebelde. Sei meu lugar e sei esperar.
Senti meu corpo entorpecer com a música e sentindo mais e mais a melodia, como se ela fosse meu próprio sangue correndo pelas minhas veias.
Acho que fiquei surda ou a música acabou no meio? Olhei o aparelho parecia estar ligado, mas nenhum som saiu dele. Ralf não estava mais ali. O rio... Estava parado. As folhas das árvores não se moviam. O tempo parou? Contudo, eu me movia. Levantei. Olhei para trás e vi algo se mover também. E lá estava ele de novo: enorme, forte, seus pelos castanho-avermelhados, aqueles olhos inteligentes. Ele estava a um passo de mim, mas eu não estava assustada. Estava fascinada. Achava-o lindo. Ele sentou-se e me encarou. Depois se deitou de lado. E foi diminuindo, seus pêlos encolhendo, pés foram para o lugar onde eram as patas traseiras, mãos foram para dianteiras, o focinho foi encolhendo, e apareceram cabelos negros como noite. Não era mais um lobo... Agora era um homem. Enorme, forte e... Nu. Ruborizei com certeza, mas a curiosidade em descobrir quem era o homem era maior. Abaixei-me para ver seu rosto de perto. Era o homem mais lindo que vi em toda minha vida. Sem ser vampiro. Sua pele era avermelhada, como os índios da região de Forks que vi numa foto. Seu rosto tinha traços finos e deveria ser só alguns anos mais velho do que eu. Sua pele parecia ser tão macia que eu não resisti, tinha de tocá-la, mas antes que conseguisse alcançá-lo sua face vira-se para mim. Ele abre os olhos e me fita. Ficamos nos olhando o tempo que parecia uma eternidade. Quando tento tocar em sua pele diz algo que por incrível que possa parecer, eu já sabia... “Eu te amo... para sempre”. E tudo voltou a andar... O tempo, o vento. Sou sacudida... o vento estaria assim tão forte? Fiquei confusa. Depois senti uma mão forte em meu ombro.... Meu nome tão longe... Ele, o homem-lobo sumira...
─ Liz! Liz! – uma voz forte e urgente me chamava..
─ Hummm... – gemi – Jacob, eu também te amo.
─ Elizabeth Mariah Cullen! – gritou exigente a voz de meu pai na minha cabeça, nos meus ouvidos, praticamente em todo meu ser. Pulei da pedra em pé assustada. Tenho certeza que se não tivesse um coração forte eu teria morrido naquele exato momento.
─ Pai? – ainda tremia do susto.
─ Vá para casa, agora! – rugiu feito um urso feroz.
Fugi dele em disparada, sabe Deus o que ele era capaz de fazer quando estava com raiva, e não era eu que iria esperar para descobrir. Senti seus passos apressados no meu encalço. Ele estava com aqueles olhos que temi ver um dia assim... Precisava de ajuda urgente...
─ Nem pense nisso mocinha! – gritou irado atrás de mim. O bloqueio mental já era.
Por mais que corresse ele estava praticamente do meu lado. Ajuda, ajuda, ajuda... De repente esbarro em uma pedra e volto, e antes que eu caísse no chão sou pega pelos braços e confortada. Tia Alice. Eu sabia. Minha salvadora sempre.
─ O que aconteceu? – perguntou com sua voz fina e assustada.
─ Eu não sei! Eu fui ao rio e dormi. É só! O Ralf estava comigo... – falei de um fôlego só.
─ É melhor entrar mocinha. – ordenou tia Alice. Perdera aquele sorriso largo fácil e estava mais branca do que de costume. – Eu seguro seu pai.
Não olhei para trás, entrei em casa arfando estacionando bem longe da porta de entrada. Com os outros me olhando, observaram meu pavor e lágrimas nos olhos, sem saber o motivo e eu sem saber o motivo da ira de meu pai. Fechei a porta, atravessei a sala e fiquei em pé atrás do sofá.
A porta se abre num furor e o monstro entra pela porta. Seus olhos encararam cada um da família e pararam furiosos para a minha mãe.
─ Quero falar com você. A sós. – falou entre os dentes. Parecia um urso com fome.
Apavorei-me ao ver minha pequena mãe, mesmo vampira e forte, indo como se fosse para guilhotina. Não pensei. Agi institivamente. Com dois saltos de uma força que não sei de onde surgiram pulei dois sofás, parando entre minha mãe e meu pai. Uma das mãos tocava minha mãe e a outra suspensa no ar. Não sabia se tinha o apoio de ninguém, mas também não perguntei.
─ A sua raiva é comigo, pai! – gritei. “Fale comigo” pensei. Minhas lágrimas já escorriam a muito.
Isso assustou mais a ele do que a mim. Fiquei a encará-lo por um tempo que parecia uma eternidade.
─ Shrssss – mamãe finalmente tomava as rédeas. Afagou meus cabelos com sua mão fria e foi até o meu rosto. – Você: - apontando com a outra não para o urso feroz – lá fora. Quanto a você mocinha, para o quarto. – falou calmamente.
─ Mãe! – estava assustada, ela não vira a raiva dele? “O que ele seria capaz de fazer?” pensei. E dois braços me pegaram retirando de perto dela. – Rose, Emmett, - chamei-os um por um, meu desespero aumentava. Já havia visto seus treinos
─ Você conseguiu. – disse mamãe entre os dentes olhando furiosa para bicho parado na porta de entrada, que parecia diminuir de tamanho. – Jasper, por favor, acalme-a.
Jazz aproximou e de repente não era tão urgente. Ele usara seu poder para acalmar os ânimos. Rose, Emmett e Carlisle também já estavam ao meu redor. Meu coração foi se acalmando, mas vi urgência entre os olhares. Todos queriam saber o que tinha acontecido. Esme chegou junto e afagou meus cabelos.
Mamãe seguiu a fera para o jardim.
─ Diga meu anjo o que aconteceu para deixar seu pai anormalmente transtornado? – falou tão docemente. Minhas palavras não pararam de jorrar.
─ Eu estava sentada à beira do rio e dormi. Tudo parou. Um lobo enorme, o que sempre aparece em meus sonhos, apareceu de novo, mas se transforma em um lindo rapaz e... - falei essas últimas palavras tendo certeza que meu rosto ruborizou quando lembrei de sua nudez. Todos agora me olhavam aterrorizado.
-- Diz logo menina... – Emmett estava impaciente.
-- Ele falara... – ruborizei mais ainda - que me amava. E... eu... disse... que o amava também. – essas últimas saíram quase inaudíveis.
-- Vou falar com Edward - quem falou foi Emmett, mas quando olhei estava apenas eu e Esme.
– Fiz algo de errado?- pedia socorro também com essa pergunta.
-- Não, meu anjo. Claro que não. – sempre doce - Amamos demais você e sempre queremos seu bem. – afagou meus cabelos.
-- Nunca vi meu pai assim – olhei Esme no fundo daqueles olhos da cor de topázio – A senhora já?
Respondeu devagar com um aceno positivo.
-- Ele volta ao normal logo? – apertei os dedos para que a resposta fosse sim.
-- Sim, ele só a ama muito – Esme abriu um sorriso reconfortante.
A porta se abre e todos entram de uma vez, menos meu pai. Pensei que a reunião iria durar horas, mas pelo visto estava errada. Minha mãe – sã e salva – entra por último e com alivio escuto sua bronca. Ficara tão nervosa que não conseguia me concentrar em nada.
-- Pensei ter mandado você para o quarto. – disse quase tão tranqüila e até mesmo... Parecia feliz? Vendo-a assim, enchi-me de coragem.
-- Quero falar com papai, – era mais uma exigência do quê um pedido, mesmo que a minha voz fosse fraquinha – por favor.
-- Ele está no jardim. – minha mãe olhou-me amorosa e intensamente.
Sai vacilante pela porta, ainda pude ouvir tio Emmett pensou com orgulho “Ela tem coragem. É realmente uma Cullen”. Não sei se isso me ajudou ou não, mas a verdade é que não tinha medo dele, apenas que o tivesse magoado a ponto de nunca mais me perdoar.
O caminho pelo jardim parecia comprido até onde o urso feroz estava sentado. Esperava ainda vê-lo bufando como um urso. Contudo, agora, ele parecia mais um cordeiro manso a espera da chuva. Aproximei-me mais um pouco e lhe perguntei sem mover minha boca o que aquele sonho o deixara irado.
─ Agora não mocinha. – rosnou ainda mal humorado respondendo minha pergunta.
Ia dar meia volta, derrotada, mas ele falou de novo. Seus pensamentos estavam bloquedos.
─ Não vou lhe contar nada, - sua voz era dura e com dor e virou-se para mim - mas quero conversar com você.
─ Pai... – falei chorosa e corri para os seus braços, por um momento achei que ele não os abriria mais para mim. Estava errada. Ele me abraçou e forte em seus braços gelados. – me desculpe, eu tive medo. Eu não queria... – a garganta doía, falei entre lágrimas.
-- Shrssss , meu amor – falou afagando meus cabelos – Já passou.
Ele me pôs em seu colo e afagou meus cabelos. Eu só queria entender e se fosse preciso, seu perdão.
-- Não estou com raiva. – falou com dor. Mas havia algo mais, eu tenho certeza, pensei. – Tem, sim – respondendo minha pergunta - mas hoje, você só vai ficar de castigo... – sentenciou.
-- O resto da minha vida se você quiser... – prometi. Sabia que não iria cumprir e ele também.
-- Não mais bloqueie seus pensamentos estando longe de casa. Isso quase me matou. – saiu sarcasticamente essa última frase.
Torci os lábios para sua piada infame.
-- Você também bloqueou os seus. – “O que há?” Pensei.
─ Ainda não. Já para o quarto. – ordenou mal humorado.
Sem conversa.
No quarto, fiquei esperando de roupão o almoço, vasculhando entre os canais de tevê, mas não encontrei nada que me interessasse e a desliguei irritada. Meus pensamentos vagaram de novo para o sonho e me enrosquei feito uma bola na cama. Precisava entender quem era o rapaz, aliás, lindo rapaz que aparecia com freqüência em meus sonhos.
Em pouco tempo minha mãe entraria por aquela porta e quem sabe poderia saber o que estava acontecendo. Ouço a porta abrir e um cheiro agradável de comida invade o quarto. Bella entra trazendo minha comida favorita: bife bem passado e fritas, mas eu estava sem fome de comida. Minha fome era de pura curiosidade. Que segredos são esses que não me são revelados?
─ Faminta? – mamãe sempre tinha um jeito de me agradar.
Agora percebi, o quanto nós somos parecidas fisicamente: o mesmo tipo e cor de cabelos. Mas os meus eram mais cacheados. Mesma altura, apesar de minha pouca idade e tenho mais sangue nas veias, é claro. Meus olhos são verdes e os delas são como dois topázios. Entretanto, se nos vestíssemos iguais, acredito que teriam dificuldade em nos diferenciar.
─ Papai está mais calmo? – queria perguntar outra coisa, mas queria ir devagar.
─ Ele só ficou preocupado. Você parou de “envia notícias”. – sua doce voz era como música.
Peguei a bandeja de comida e a pus de lado. Apesar do cheiro bom, estava mesmo sem fome.
─ Preciso de ajuda, mamãe – implorei – Preciso entender esses sonhos.
Seus olhos percorreram o quarto, mas pararam nos meus. Havia algo que precisava contar urgente. Ela mordeu o canto dos lábios e isso era um sinal. Realmente há alguma coisa.
─ Você conhece o rapaz dos meus sonhos, não é? – só queria a confirmação, pois minhas suspeitas aumentaram hoje. Sua mente é intransponível. Então tinha que ler os sinais de seu rosto.
─ Sim – sua voz era triste - há muito tempo eu o conheci.
─ Ele, por acaso, não deveria povoar seus sonhos e não os meus, certo?
─ Eu não sei o que ele faz em seus sonhos. – disse num meio sorriso. – Jacob Black, é um transformador, vulgarmente ele é chamado de lobisomem, pertence à tribo quileutes daqui da reserva indígena de Forks.
─ La Push.
─ La Push. – repetiu ela – Ele e outros de sua tribo transformam-se em lobos e há muito tempo estão protegendo a região deles e sua tribo...
─ De quem?
─ De nós.
─ Nós? – o que teríamos feito para isso acontecer? – Mamãe, a história é longa?
Ela assentiu.
─ Não tenho pressa.
Então ela me explicou que os há muito tempo atrás houve um acordo entre os Cullen e o quileutes. É claro que, Carlisle, Esme e Edward na época, já eram vegetarianos. E conseguiram provar que não atacariam um ser humano se quer nessas terras ou qualquer outra. Ainda assim, os Cullen não podem entrar nas terras quileutes com a ameaça de serem mortos e seriam também mortos se transformasse algum ser humano ou matassem qualquer um que seja.
─ Mamãe, a senhora é uma vampira agora... E o pacto?
─ Eu iria morrer se não tivessem me transformado. Tivemos uma autorização expressa de um alfa.
─ Alfa?
─ Um alfa é um chefe de uma alcatéia. – sua voz era rouca e tinha um saudosismo nela - Ele tem os exatos poderes para permitir que acontecesse isso.
─E... Jacob dera a autorização, não é?
─ Correto. Você é rápida. – disse orgulhosa.
─ O que aconteceu a Jacob, depois disso?- meu estomago doía de curiosidade.
─ Ele não agüentou... E foi embora. Desde então nunca mais o vimos.
─ Ele autorizou... e não agüentou...
Paramos um pouco e nos olhamos durante algum tempo. Seus olhos ficaram nos meus e percebi que nas entrelinhas havia algo mais.
─ Embora? Não agüentou? – repeti.
─ Às vezes eu falo com Seth, seu amigo lobo, mas nunca mais tivemos sucesso. Jake silenciara há muito tempo.
─ Morreu? – sabia que não.
─ Não. – ela falou rápido e percebi um nervosismo – Acho que não. – melhorando o tom de voz para mais calma.
─ A senhora... - olhei bem para ela e a vi levantar uma sobrancelha fitando-me pela minha interrupção na frase. Acho que ela tinha quase certeza o que eu iria perguntar – se apaixonou por ele?
Se ela não fosse uma vampira ela teria ficado mais pálida do que já é? Ou teria ruborizado como eu? Chutei um palpite e as minhas perspectivas estavam se concretizando.
─ Digamos que fomos... muito ligados – falou desviando o olhar de mim.
Bingo!
─ Queria Jake... Como parte da família. Como um irmão. Mas ele ficou muito mais que isso.
─ Vocês nunca ficaram juntos? – seus olhos aumentaram – ou ele nunca quis te seqüestrar?
─ Não... não sei. Pelo menos nunca se concretizou. - Será que ela achou isso um absurdo?
─ Seria romântico... – suspirei
─ Seria mortal – esquivou.
─ Talvez.
─ Eu amo seu avô. Sempre. – admitiu.
─ E Jacob? Ele não agüentou... Tinha o coração partido...
─ Eu havia acabado de ter Renesmee, estava fraca e seu avô havia posto seu veneno em meu coração para me salvar. Levei certo tempo para me estabilizar e ficar apta para ver os outros. Ele já havia ido embora.
─ Vovô morre de ciúmes, não é?
Ela deu um sorriso sem graça, claro que não era orgulho. Não era bem o sentimento que ela tinha em relação a isso. Parecia mais uma dor sem tamanho, meio que sem cura. Uma coisa que lhe consumiu durante o tempo e às vezes você se acostuma com isso e vai vivendo sua vida, mas nunca lhe sai da cabeça. Vez por outra você a encontra no arquivo mais fundo de sua memória.
─ E se eu... O achasse novamente? Esclareceria que você está viva, mesmo vampira. Talvez seja por isso que ele apareça tão vivo e tão presente em meus sonhos... – rimos um pouco da minha teoria – e talvez ele pense que eu sou você.
─ Seu avô não ficaria muito feliz... tentaria arrancar a cabeça dele numa única mordida. – avisou.
─ Lobos não são assim tão fracos... Estou certa? – calculei.
─ Certo.
─ Diga mamãe, se ele a amava tanto como eu imagino, porque não lutou por você?
─ Mas quem foi que disse que ele não tentou me persuadir de não me tornar vampira? Ao contrário. Ele sempre batia à mesma tecla. Mas falei para ele que não era possível mudar de opinião.
─ Ele era bonito, jovem, quente... – vi seus olhos aumentarem de espanto – Quer dizer...
-- E amar a um vampiro? – completou a minha frase – Um dia você vai entender. – prometeu.
Virei-me olhando para o teto.
─ Não duvido de seus sentimentos, mamãe. Mas Jacob a amava mais do que tudo, não?
─ Acho que sim.
De repente a porta se abre sem baterem e o rosto de meu Emmett aparece de olhos fechados, com um sorriso traquino na boca.
─ Tem alguém nu ai?
─ Não!!! – respondemos juntas.
─ Que bom. – e entrou de vez - Queria saber se você gostou do meu bife ao molho branco... – mas sua voz foi diminuindo.
Levantei-me rapidamente e vi que ele fitava a bandeja onde estava minha comida. Estava vazia.
─ Uau! Se eu soubesse tinha feito mais.
Olhei para a mamãe e seus olhos concordavam comigo: Ralf comera toda a minha comida! Nós poderíamos ter dito a verdade ao tiosão, mas ele ficaria muito magoado.
─ Estava... ótima mesmo. – menti descaradamente.
Já era muito tarde quando ambos saíram e me deixaram só, a vagar em meus pensamentos. O que teria de fazer para descobrir o que aconteceu? Meus pensamentos ainda estavam bloqueados. Os de meu pai também.